NOSSA
CRIANÇAS
Por
Maria Irene Maluf
Quanto
mais cedo melhor
Existem
crianças que ao entrarem no ensino fundamental, por volta dos 5 ou 6 anos de
idade, já demonstram não conseguir aprender no mesmo ritmo de seus coleguinhas.
Tais pequenos, muitas vezes, foram percebidos como imaturos no ensino infantil,
pois se mostravam mais dispersivos, lentos, com vocabulário pobre e dificuldade
em dominar conhecimentos básicos, relativos à forma, à cor e à posição
espacial, entre outros.
Inicialmente,
é comum a escola procurar estimular o aluno, dando-lhe suporte pedagógico
individual. Mas se esse reforço não traz os resultados esperados, os pais
geralmente são chamados, colocados a par do que ocorre e orientados a buscar um
especialista.
É
frequente a família atribuir esse pedido da escola a um certo exagero e
preferir esperar um tempo para ver se o filho vence por si as dificuldades
apontadas pelos professores. Em geral, os pais não sabem da urgência dessa
avaliação, pois desconhecem que a melhor época para o especialista diagnosticar
e, intervir nos problemas de aprendizagem infantil é antes dos 6 anos. Na verdade,
as chances de sucesso de qualquer tratamento diminuem consideravelmente a
partir dos 10 ou 11 anos de idade, devido às condições peculiares do
desenvolvimento neurológico nos primeiros anos de vida.
Tal
condição é conhecida por “janelas de oportunidades” – expressão que denomina os
períodos de vida mais propícios para o cérebro assimilar informações de
determinada natureza. Assim, o sentido da visão se forma até os dois anos e o
aprendizado de línguas atinge seu ápice dos três aos dez.
Isso
não significa que após essa idade seja impossível ajudar crianças, jovens ou
adultos a superar dificuldades de aprendizagem, mas, sim, que o ato de aprender
se dará com menos facilidade e que os problemas já terão deixado marcas na
mente infantil.
As
recentes descobertas a respeito da formação do cérebro e do desenvolvimento da
cognição prenunciam enormes avanços e dão à educação infantil um papel cada vez
mais importante. Hoje já se sabe que escola infantil não é apenas um lugar onde
as famílias deixam os filhos para brincar, mas, um sinônimo de educação
oferecida no melhor período da vida para se aprender.
Infelizmente,
não há problemas dessa ordem que desapareçam apenas com o crescimento e isso
mostra-se fácil de entender: primeiro, à medida em que a escolaridade progride,
aumentam as dificuldades, porque todo conhecimento escolar é baseado no
anterior. Segundo, porque a criança vai adquirindo a consciência de que não é
capaz de assimilar o conhecimento como seus colegas e desenvolve um outro
problema – baixa auto-estima –, que acarreta questões de ordem emocional e uma
profunda desmotivação para estudar.
Passando
ao 1º ou 2º ano, o pequeno que antes tinha apenas uma dificuldade já demonstra
não conseguir acompanhar o trabalho escolar numa idade em que seu desempenho na
leitura, na escrita e na matemática são decisivos para sua própria valorização
pessoal e social.
Ao
longo de muitos anos avaliando e trabalhando com crianças portadoras de
dificuldades e transtornos de aprendizagem, pude constatar que é raríssimo
encontrar, no ensino fundamental, meninos ou meninas com problemas que antes
não tenham exibido sinais deles.
Disso
se conclui que o olhar da familiar e da escola sobre as discrepâncias e
diferenças do desenvolvimento infantil na aquisição da linguagem, da
motricidade e do raciocínio, assim como no entendimento das primeiras lições
escolares deve ser atento e sempre levado a sério. Uma vez diagnosticadas as
deficiências, toda intervenção será muito mais rápida, menos complexa e mais
eficiente do que a realizada mais tarde. Avaliar não deixa marcas, não “traumatiza”
a criança, mas lhe dá a oportunidade de ser tratada e, assim, ter a chance de
se desenvolver adequadamente.
Fonte: Na Poltrona, julho de 2012.
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