quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Artigo: Nossa Crianças

NOSSA CRIANÇAS

Por Maria Irene Maluf


Quanto mais cedo melhor



Existem crianças que ao entrarem no ensino fundamental, por volta dos 5 ou 6 anos de idade, já demonstram não conseguir aprender no mesmo ritmo de seus coleguinhas. Tais pequenos, muitas vezes, foram percebidos como imaturos no ensino infantil, pois se mostravam mais dispersivos, lentos, com vocabulário pobre e dificuldade em dominar conhecimentos básicos, relativos à forma, à cor e à posição espacial, entre outros.

Inicialmente, é comum a escola procurar estimular o aluno, dando-lhe suporte pedagógico individual. Mas se esse reforço não traz os resultados esperados, os pais geralmente são chamados, colocados a par do que ocorre e orientados a buscar um especialista.

É frequente a família atribuir esse pedido da escola a um certo exagero e preferir esperar um tempo para ver se o filho vence por si as dificuldades apontadas pelos professores. Em geral, os pais não sabem da urgência dessa avaliação, pois desconhecem que a melhor época para o especialista diagnosticar e, intervir nos problemas de aprendizagem infantil é antes dos 6 anos. Na verdade, as chances de sucesso de qualquer tratamento diminuem consideravelmente a partir dos 10 ou 11 anos de idade, devido às condições peculiares do desenvolvimento neurológico nos primeiros anos de vida.

Tal condição é conhecida por “janelas de oportunidades” – expressão que denomina os períodos de vida mais propícios para o cérebro assimilar informações de determinada natureza. Assim, o sentido da visão se forma até os dois anos e o aprendizado de línguas atinge seu ápice dos três aos dez.

Isso não significa que após essa idade seja impossível ajudar crianças, jovens ou adultos a superar dificuldades de aprendizagem, mas, sim, que o ato de aprender se dará com menos facilidade e que os problemas já terão deixado marcas na mente infantil.

As recentes descobertas a respeito da formação do cérebro e do desenvolvimento da cognição prenunciam enormes avanços e dão à educação infantil um papel cada vez mais importante. Hoje já se sabe que escola infantil não é apenas um lugar onde as famílias deixam os filhos para brincar, mas, um sinônimo de educação oferecida no melhor período da vida para se aprender.

Infelizmente, não há problemas dessa ordem que desapareçam apenas com o crescimento e isso mostra-se fácil de entender: primeiro, à medida em que a escolaridade progride, aumentam as dificuldades, porque todo conhecimento escolar é baseado no anterior. Segundo, porque a criança vai adquirindo a consciência de que não é capaz de assimilar o conhecimento como seus colegas e desenvolve um outro problema – baixa auto-estima –, que acarreta questões de ordem emocional e uma profunda desmotivação para estudar.

Passando ao 1º ou 2º ano, o pequeno que antes tinha apenas uma dificuldade já demonstra não conseguir acompanhar o trabalho escolar numa idade em que seu desempenho na leitura, na escrita e na matemática são decisivos para sua própria valorização pessoal e social.

Ao longo de muitos anos avaliando e trabalhando com crianças portadoras de dificuldades e transtornos de aprendizagem, pude constatar que é raríssimo encontrar, no ensino fundamental, meninos ou meninas com problemas que antes não tenham exibido sinais deles.

Disso se conclui que o olhar da familiar e da escola sobre as discrepâncias e diferenças do desenvolvimento infantil na aquisição da linguagem, da motricidade e do raciocínio, assim como no entendimento das primeiras lições escolares deve ser atento e sempre levado a sério. Uma vez diagnosticadas as deficiências, toda intervenção será muito mais rápida, menos complexa e mais eficiente do que a realizada mais tarde. Avaliar não deixa marcas, não “traumatiza” a criança, mas lhe dá a oportunidade de ser tratada e, assim, ter a chance de se desenvolver adequadamente.


Fonte: Na Poltrona, julho de 2012.

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